O que está por detrás do aumento de pedidos de recuperação judicial no setor de logística e transportes?
De acordo com dados da Serasa Experian, 2.273 empresas de diferentes portes e segmentos pediram recuperação judicial no Brasil em 2024. O número saltou 61,8% em relação a 2023 e é o maior da série histórica, iniciada em 2006. 2025 vem registrando novos recordes, inclusive no setor de prestação de serviços em logística e transportes.
O setor de transporte e logística, que funciona como a “espinha dorsal” do escoamento de mercadorias, enfrenta um cenário de intensa pressão financeira, evidenciado pelo crescente número de empresas que buscam a recuperação judicial. Esse mecanismo legal, desenhado para permitir a reestruturação e a continuidade das operações, tem sido a tábua de salvação para muitas empresas, sinalizando uma crise estrutural que vai além das dificuldades conjunturais.
As causas dessa deterioração financeira são multifacetadas e se intensificaram nos últimos anos. Entre as principais, destacam-se o ambiente macroeconômico adverso, com juros altos que encarecem o crédito e limitam o capital de giro, e os custos operacionais elevados. O preço do diesel e a pesada carga tributária sobre o setor corroem as margens de lucro. Além disso, a defasagem do frete em relação aos custos e o longo prazo de recebimento pelos serviços (muitas vezes de 90 a 120 dias) criam um descompasso de caixa crítico, agravando a situação.
Outros desafios estruturais como a precária infraestrutura rodoviária brasileira, que gera desgaste acelerado da frota e aumenta os custos de manutenção, a alta incidência de roubo de cargas e a intensa concorrência no mercado, contribuem para o estrangulamento financeiro das empresas.
A gravidade da situação se reflete nos pedidos de recuperação judicial. Embora os nomes variem em abrangência e porte, casos recentes incluem grandes Operadores Logísticos e empresas de transporte de carga lotação e fracionada. Algumas que entraram com pedidos em diferentes momentos, ilustrando o momento crítico que estamos vivendo, são o Grupo Mira Transportes e Logística, BBM Logística, Sequoia Logística, Mann Transportadora, Graneleiro Transportes, Fibra Forte Transportes, Vobeto Transportes, Avilan Transportes, Grupo Morada, Beviani Transportes, dentre outras, que buscaram reorganizar passivos significativos.
Para o futuro, o panorama exige uma reestruturação profunda. O aumento dos pedidos de recuperação judicial indica a necessidade de o setor buscar maior eficiência operacional e gestão de custos mais rigorosa.
As possíveis saídas para a crise passam, essencialmente, pela combinação de esforços em diferentes frentes.
A diversificação de serviços, a adoção de tecnologias (como telemetria e sistemas de gestão de frota) e a busca por negociação de fretes mais justos e sustentáveis são imperativas. O setor precisa se reinventar para equilibrar as contas, mantendo a resiliência e a relevância como pilar do abastecimento nacional.
Apesar da crise, a importância do setor de transporte e logística é inegável, e sua recuperação é vital para a fluidez da economia. A superação do cenário atual dependerá da capacidade das empresas de se reestruturarem e de uma improvável mudança por parte dos contratantes de fretes, que continuam a pressionar as empresas por menores tarifas.
Podemos estar dentro de um “beco sem saída”, que poderá custar muito caro para o nosso país!